sábado, 19 de fevereiro de 2011

Discurso. Whisner Fraga

Discurso proferido no dia 10 de fevereiro de 2011, por Whisner Fraga, paraninfo da turma de Formandos em Tecnologia de Fabricação Mecânica, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.

Boas vindas a todos e a todas.
Queridos formandos, queridas formandas,

Quando me convidaram para ser paraninfo desta turma, fiquei aflito. Eu não sabia ainda o significado real de tal distinção, as implicações, as responsabilidades, as atribuições, as regalias. Devia aprender urgentemente algo sobre esta homenagem. Assim, comecei a pesquisar. Descobri que o termo veio do grego paránymphos, que originariamente era utilizado para designar aquele que ia buscar a noiva em sua casa, para guiá-la até o local onde se realizaria o casamento. Esta pessoa que conduzia a noiva era o melhor amigo do noivo e estava ali para proteger a nubente e também para ajudá-la no que necessitasse. Mais tarde, as universidades começaram a adotar o termo para denominar o indivíduo que ficava na entrada da sala, fazendo propaganda do curso. Hoje, o dicionário Aulete digital define paraninfo como:
1 Pessoa homenageada por uma turma de formandos como seu padrinho ou patrono e que na cerimônia de colação de grau os saúda.
2 Sentido Figurado. Patrono, protetor.
Quero destacar três palavras citadas até aqui: amigo, padrinho e protetor.
Escutei incontáveis vezes pelos corredores das escolas por onde passei, que aluno e professor não podem ser amigos, pois há clara incompatibilidade de interesses. Não tenho receio nem vergonha de afirmar perante todos aqui que fui amigo de quase todos os alunos para quem lecionei e que continuo a ser amigo de muitos até hoje.
Colegas professores argumentavam que se nos tornássemos amigos de nossos alunos, perderíamos a autoridade. Contraponho com um exemplo simples: pergunto aos pais aqui presentes se perdem a autoridade ao ser amigos de seus filhos. Porque, se julgarem que sim, terão de deixar de conversar com eles, terão de parar de aconselhá-los, de chamar sua atenção por um erro, não poderão mais ser rígidos ao educá-los. Por que não é isso que um amigo faz? Conversa, aconselha, chama a atenção, é rígido quando necessário, aponta falhas, faz críticas, acompanha, ajuda? É preciso discernir autoridade de autoritarismo. Autoridade se consegue com respeito mútuo e só pode ser alcançada entre iguais – um pai de verdade não se considera maior do que seu filho – enquanto o autoritarismo é obtido com relações de poder e arbitrariedade.
Durante os anos que acompanhei esta Turma de formandos do curso de Tecnologia em Fabricação Mecânica, além de discutir o conteúdo pertinente a disciplina, eu também fui amigo – dialoguei, aconselhei, puxei orelhas, fui rígido. E também ouvi, pois meus amigos descobriram várias falhas em mim.
Nesta turma de formandos, há ocupantes de cargos relevantes em indústrias, há empreendedores, há selecionados em programas de mestrado nas mais conceituadas instituições de pesquisa do país. Então, quero lhes dar um conselho – vocês todos lidam com outros seres humanos – patrões, empregados, orientadores, sócios, colegas de trabalho, familiares. O que lhes peço é que tentem enxergar todas essas criaturas com o olhar da condescendência, da compreensão e da amizade. Porque se procurarem inimigos em seus relacionamentos, inimigos encontrarão. Esse fardo no qual às vezes a vida se transforma não seria mais leve se a sociedade fosse composta unicamente por amigos? Eu tenho certeza que sim, pois tenho a prova disso. Quando iniciei o exercício da docência, vasculhava o semblante amedrontado de meus alunos em busca do ponto mais vulnerável de cada um, para que pudesse me aproveitar dessa fragilidade e atocaiar um a um, legitimando, dessa forma, o meu poder. Então, me deparava com mágoa, revolta, insatisfação e retornava para casa sempre triste, frustrado. Ora, acreditava e ainda acredito firmemente que nossa missão aqui é alcançar a felicidade, a paz, a serenidade e depois aprender a mantê-las por perto. Algo estava errado, portanto, e descobri que o errado era eu, eu e meu espírito belicoso, que queríamos guerra a todo o momento. Não me imitem: sejam pacientes, compreensivos, aposentem suas armas.
Há uma frase atribuída ao escritor norte-americano Ralph Emerson, da qual gosto muito e, para terminar a minha fala, gostaria de compartilhá-la com vocês:
De cada minuto em que nos encontramos nervosos, chateados, estamos perdendo sessenta segundos de alegria.
Sejam felizes!
Muito obrigado.

- Whisner Fraga é Acadêmico da ALAMI - fundador da Cadeira 58 - Patrono: Fernando Sabino. -

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