sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

6º. Concurso Contos do Tejuco - resultado


A L A M I

Academia de Letras, Artes e Música de Ituiutaba.

alamiacademia@yahoo.com.br

6º. Concurso Contos do Tejuco

“Jair Humberto Rosa”

2011.

Resultado:

Conto premiado –

* Sede

Autor - Caio Flávio Oliveira de Oliveira – São Gabriel – RS.

Contos Selecionados:

* Do outro lado da vidraça

Autor – Denivaldo Piaia – Campinas – SP.

* O dia em que Aristófanes tentou ser herói

Autor – Elroucian Ucayali Santos da Mota – Porto Alegre – RS.

* Átila, o Destruidor.

Autor – Gabriel Francisco de Mattos – Cuiabá – Mato Grosso

* Pé de meia na janela

Autor – Geraldo Trombin – Americana – SP

* A morte do poeta

Autor – Gilberto Garcia da Silva – Goio-Erê - Paraná

* Olhos Tristes

Autora – Giovanna Artigiane – Campinas – SP

* Vós pouco dais...

Maria Apparecida S. Coquemala – Itararé – SP

* INsensibilidade

Neusa Marques Palis – Pirangi – SP

* Maria Fumaça e Tronquilos na Praça

Autor – Schleiden Nunes Pimenta – Campinas - SP

- aguardem publicação do conto premiado.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Resenha vencedora


5º. Concurso de Resenhas
"André Kondo"

A ALAMI - Academia de Letras, Artes e Música de Ituiutaba -
promove o 5º. Concurso de Resenhas que, nesta edição, homenageia
o autor André Kondo.
Trata-se de uma atividade que visa o incentivo à leitura e à
produção de resenhas críticas em língua portuguesa.

1 - O objeto à ser resenhado é "O origami", de André Kondo, conto premiado
no 5º. Concurso Contos do Tejuco "Maria Adelina V. C. e Gomes",
promovida pela ALAMI. O conto está disponível no site da Academia, no link: http//www.alami.xpg.com.br/origami.html. e, tambem, nesse blog.

O vencedor desse 5º. Concurso de Resenhas é o brilhante e multipremiado escritor Roque Aloisio Weschenfelder, nascido na cidade de Santo Cristo - RS, com residencia em Santa Rosa - RS.
O escritor Roque Aloisio é professor de línguas e literatura, autor dos livros"Mundo de impressões" (poesia), "A Borboleta Brilhante" (infantil) e "O ouro dos Dias" ( coletânea de textos premiados em Concursos Literários. É colunista do site www.gostodeler.com.br.
O professor Roque Aloisio foi vencedor, tambem, do 4º. Concurso de Resenhas da ALAMI em 2010.

RESENHA VENCEDORA:



ELETROCARDIOGRAMA

“O origami” de André Kondo é um conto composto de três partes distintas, mas interligadas pelo fio dos pássaros de papel. Linguagem acessível para o leitor com diálogos pertinentes e oportunos, sequência em linha curva no tempo parecendo gráfico de eletrocardiograma do narrador.

Desde o início a personagem Masao é mostrada em toda uma densidade, ou seja, maldade, como poderia pensar o leitor desavisado, uma vez que pena de morte é um prêmio valioso demais para um criminoso, assassino do genro e da filha e até atentado contra a vida da netinha, como narram os segundo e terceiro parágrafos. Masao é descrito como um homem cruel que chutava cães, atirava pedras em pássaros, inclusive no sagrado tsuru, um símbolo nacional, repelia a companhia de qualquer ser vivo. As descrições na primeira parte do conto servem para justificar o senso comum, reunido no bar.

O senso comum pode estar bêbado, porém sabe condenar, à vida miserável dos mais abjetos adjetivos, a alguém para quem a morte seria algo brando demais. O saquê, potente bebida alcoólica, move menos os pensamentos, todavia desloca palavras carregadas e inquiridoras que batem umas nas outras na perseguição de razões para as imbecilidades de Masao.

De repente a narrativa dá uma guinada. Um forasteiro, que se apresenta como conhecido do vilão se intromete nas discussões embriagadas. A tudo que afirma as bocas do “saquê quente” retrucam com desprezo e desdém. Quando finalmente pôde falar informou que Masao quase matou o próprio pai, mas remendou que isso iria acontecer para defender a mãe do pai bêbado – ele seguidamente agredia a mãe de Masao e um dia a matou sem que o filho o pudesse impedir. Nunca se perdoou, odiou o pai para sempre e a si mesmo por esse ódio voraz. O forasteiro inquire aos presentes se também já não cometeram injustiças por influência da bebida. Atinge a consciência da maioria deles. Pergunta ainda se algum deles já tentou se aproximar de Masao. Recebe como resposta a justificativa de que ele aceita ninguém. O homem acrescenta que todos nós temos uma força grande para transformar a vida das outras pessoas. No tempo em que falava dobrava um origami em tsuru de papel, depois em sapo e novamente em tsuru. No final desamassa o papel e sai.

O conto entra na segunda parte com a visita do forasteiro a casa onde mora Naomi, a netinha de Masao. Fala com ela e ensina-lhe, a pedido dela, como fazer tsurus. Explica-lhe que quem faz mil tsurus tem direito a um pedido. O narrador revela que o forasteiro é o irmão mais novo de Masao, tio-avô de Naomi.

A genialidade de André Kondo se mostra em toda a plenitude quando o narrador inicia a terceira parte do conto. Inicialmente Masao refuta a visita do irmão na prisão. O leitor surpreende-se ao saber que o mal falado criminoso apenas assumiu o papel de assassino. A revelação de que o genro de Masao envenenou a esposa e a filha e depois se suicidou, tendo Naomi, milagrosamente, sobrevivido, mostra uma técnica narrativa digna dos grandes mestres no gênero do conto. Masao apresentara-se como o assassino, querendo que Naomi nunca tivesse de sentir o ódio ao pai que ele mesmo vivera. Kondo sabe ser sublime quando faz Naomi falar com Masao chamando o de Ditchan (vovozinho). E acentua toda sua sensibilidade ao descrever o diálogo entre as duas personagens e a entrega de mil tsurus de papel alinhados em vários cordões. A revelação de que fez o pedido permitido por fazer mil tsurus, e este pedido ser para Masao se tornar uma pessoa boa, mostra como a dureza dos pré-julgamentos pode ter um oposto, a leveza das ideias de uma criança a dar asas a tsurus de papel e à alma de um homem na miséria existencial.

A leitura de “O origami” remete aos dramas que os vícios podem provocar nas pessoas, às tragédias que álcool e ciúme desencadeiam, ao ódio a que o coração se submete e à esperança que um simples gesto inocente de bondade consegue restabelecer. A trama simples, porém imprevisível, mostra a capacidade do autor de sustentar o interesse do leitor e de até comovê-lo.

Um conto bem escrito como este de André Kondo tem a capacidade, não somente de prender o leitor do início ao final, como sabe surpreender a tal ponto que ele se sinta enganado, mas feliz com esse engano.

“O origami” candidata-se a figurar entre os melhores contos escritos no século XXI e não fica devendo aos expoentes dos criadores de narrativas curtas.

Roque Aloisio Weschenfelder