sábado, 8 de janeiro de 2011

Resultado do Concurso Contos do Tejuco - 2.010

imagem ilustrativa:
quadro de Enio Ferreira
"Mar adentro"-



A L A M I

Academia de Letras, Artes e Música de Ituiutaba.
alamiacademia@yahoo.com.br
http://www.alami.xpg.com.br/

5º. Concurso Contos do Tejuco
“Maria Adelina Vieira Cardoso e Gomes”

RESULTADO:
Comissão Julgadora:
Adriana Alves Moraes de Souza
Professora Mestre em Língua Portuguesa FEIT-UEMG

Ana Karollina Ramos da Silva
Licenciada em Letras FEIT-UEMG
Kênia de Souza Oliveira
Professora Especialista em Língua Portuguesa FEIT-UEMG

Conto vencedor:

“O origami” – Autor: André Telucazo Kondo – Jundiaí – SP.

Contos selecionados: Menção Honrosa.
“O todo-poderoso” – Idalina Duarte Guerra – Niterói – RJ.

“O príncipe” – Raphael de O. Reis – Juiz de Fora – MG.

“A passageira” – Valéria Mares Álvares – Belo Horizonte – MG.

“Pré-natal” – Tatiana Alves Soares Caldas – Rio de Janeiro – RJ.

“O vizinho e o Sputnik” – Roque A. Weschenfelder – Sta. Rosa - RS

“O assessor” – Maria Apparecida. S. Coquemala – Itararé – SP.

“A roupa nº. 3” – Adilar Signore – Canoas R. S.

“A menina, sua figura estranha e um mísero instante” – Thais Polidoro - Marilia – SP.

“A carta” – Whisner Fraga – Ituiutaba – MG

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Baile de amor e vida

ALAMI
Academia de Letras, Artes e Música de Ituiutaba

4º. Concurso de Resenhas " Bruno de Souza Moreira"
2.010. O objeto a ser resenhado é o conto "ANDREIA", conto premiado
no "4º. Concurso Contos do Tejuco"
O conto está disponível no site da Academia:
www.alami.xpg.com.br

Resenha Vencedora:

BAILE DE AMOR E VIDA


ANDRÉIA vem com uma introdução em que o narrador justifica sua situação antes de contar as vivências. Prossegue falando da paixão dela pelo que fazia em prol de pessoas por quem mais ninguém se interessa. Conta o episódio da proteção de um adolescente prestes a ser linchado por crime cometido. Ressalta que ela era assim quando se envolvia com causa justa. Ressalta o fato de ela ser heroína e vilão de sua história. Sempre foi adepta da militância política desde os tempos da faculdade, resumindo ter incorporado filosofias de Trotsky, ter demorado a concluir o curso, ter participado de reuniões clandestinas para incentivo a greves e manifestações de resistência.
E de repente o amor.
Agora o narrador abre um amplo parêntese para narrar o primeiro grande e fracassado amor dela. Não o fracasso do amor em si, mas do casamento com um militante, das dificuldades de moradia, do nascimento do filho que não consegue ser sustentado, da inevitável separação, do trabalho como modesta funcionária pública e do primeiro encontro entre ela e o narrador.
O conto segue relatando os encontros e desencontros iniciais, pinçados de inusitadas situações até acontecer o inolvidável: a dança.
A vida segue por muito tempo e a dança é o liame da união entre ambos. A dança percorre o mundo e a vida, cria os filhos, mantém a convivência até a chegada da velhice. Basta perguntar “Você dança” para que novas expectativas se criem.
De repente ela o deixa também e volta à antiga militância, mas em outras situações, passa um tempo até que se comunica para contar o que faz e para perguntar: “Você dança”?
Ele comemora oitenta anos, bem conservado, e quando lhe perguntam a razão ele responde que precisa estar bem para dançar quando ela voltar.
...
O conto Andréia na verdade parece uma novela, quase romance, pois retrata um episódio longo no tempo. Fica na esfera do conto pelo fato de que pode ser dimensionado como um momento de lembrança no dia do octogésimo aniversário do narrador-personagem.
O autor Bruno de Souza Moreira usa de tópicos de literalidade muito intensos e interessantes, quando insere vários paradoxos: “fazer as coisas que estavam dando certo, caminharem em sentido errado.”; abandono de parceiros levados a um evento; apoio na hora da separação. No parêntese que cria, narra a história do amor de Andréia, presumivelmente contado por ela sem, no entanto, mencionar isso. Ela se apaixona pelo primeiro amor na hora de um discurso inflamado do homem, ela se apaixona pelo narrador na hora de um discurso de bar. O primeiro amor sofre muitos percalços e acaba (aparentemente) por necessidade de criar o filho; o segundo amor vive a vida de família com vários filhos na prosperidade (sítio). Como cabe num bom conto, apenas de leve são focadas as situações econômicas, mas intensamente, as vivências emocionais. As descrições restringem-se a detalhes, um pouco mais sobre ela: principalmente a beleza e a insinuação da sensualidade; sobre o primeiro marido: um oriental, japonês; sobre o narrador-personagem: nada além da boa conservação na velhice.
A linguagem segue padrões formais, porém, é enfeitada por frases de efeito como: “pelos padrões ditados pelos objetivos comuns”; “Noites intermináveis regadas a Marx, Engels e vinho barato”; “as necessidades materiais da criança começaram a berrar”; “mas isso não matou, e sim o fortaleceu”. Infere forte sentido emocional à frase-pergunta: Você dança? Na primeira vez as indefinições se resolvem, na segunda, salva a relação em perigo, na terceira vez reanima a excitação e as lembranças enfraquecidas pela idade avançada e, na quarta, acende a esperança da volta, transformando-a em promessa impossível de ignorar. Discretamente o narrador mostra como a velhice afeta os sentidos: “O quê? Não ouvi!!” Prosopopeias e metáforas mesclam-se pelo texto afora, sem afetarem a perfeita perceptibilidade da narrativa na sua sequência temporal. A linha do tempo no conto segue a de um romance, diferindo, deste, pelo número restrito de personagens. A genialidade do autor reside também no fato de criar o triângulo amoroso pelas insinuações e sem citar se ela voltou ao seu primeiro amor (o japonês) ou se é realmente apenas a volta à militância política que pode estar confundindo os dois tópicos.
Mas a dança fica aberta. “Não para não, meu amor! Vai treinando, que um dia eu volto!” A dança dos amores, a dança dos parceiros abandonados em pleno show, a dança das lembranças, a dança dos militantes, a dança dos atributos dela, a dança que faz valsar o conto na imaginação do autor, a esperança e a promessa da volta dela, a dança que não acontece na festa do aniversário, mas que dança na mente fragilizada pela idade, não obstante a afirmação da boa forma corporal mantida.
...
ANDRÉIA é a mulher dos anos sessenta e setenta que o Brasil viveu. Ela não envelhece isso apenas ao seu amor mais estabilizado, representado pelo narrador-personagem. É uma visão masculina da força e decisão femininas capazes de suportar as agruras advindas do seguir de um ideal.
ANDRÉIA precisa voltar para dançar de novo, como dança a história, como dançam as mulheres de fibra, como dança a mãe em prol da vida e bem-estar dos filhos.
ANDRÉIA nunca envelhece porque ela fica sempre jovem, bela e sensual na memória.
ANDRÉIA sempre convence a si mesma e aos seus amores: o homem, a vida, o ideal...

Roque Aloisio Weschenfelder
Professor de Português e Literatura
Poeta, Cronista e Contista