quarta-feira, 31 de maio de 2017

Crônicas


CRÔNICAS DO CIBERPAJÉ EDGAR FRANCO 01

A Obsolescência Programada e o Colapso Global

            Ultimamente nosso país está vivendo um momento político conturbado e seguimos ansiosos para retomarmos o desenvolvimento e o crescimento econômico. Na verdade esse é um erro grave, pois as perspectivas de um futuro apocalíptico para a espécie humana que têm engendrado cosmogonias religiosas e inspirado centenas de escritores de ficção científica a criarem obtusas visões distópicas da decadência e extinção da humanidade, parecem ter, nas duas décadas recentes, migrado dos cultos e das ficções midiáticas para os livros, artigos e pesquisas de eminentes cientistas, tecnólogos, políticos e jornalistas. Dentre as vozes que denunciam, há mais de 30 anos, a tragédia anunciada de um colapso global resultante da ação predatória desvairada do homem na biosfera teresstre destaca-se o notório cientista com formação em química, medicina e biofísica, James Lovelock.
            Atualmente pesquisador independente, Lovelock obteve seu Ph.D. em medicina em 1948 no London School of Hygiene and Tropical Medicine. Posteriormente foi pesquisador na Universidade de Yale, no Baylor University College of Medicine, e na Harvard University. É também o inventor de vários instrumentos científicos utilizados pela NASA para análise de atmosferas extraterrestres e superfície de planetas. Suas investigações o fizeram postular a chamada “Teoria de Gaia”, segundo a qual a biosfera terrestre constitui-se de um sistema totalmente interdependente, onde todas as espécies vivas contribuem sinergicamente para o seu equilíbrio e subsistência. Em décadas recentes Lovelock tem escrito livros que apresentam sua visão do colapso global iminente a partir de seus estudos que comprovam que as calotas polares estão em acelerado processo de derretimento devido ao aquecimento global causado pela ação humana. As consequências disso são escassez de água, aumento dos desastres naturais e uma ameaça à vida e à biodiversidade planetária. Em seu livro “Gaia: Alerta Final”, Lovelock  alerta-nos que a ação destrutiva de nossa espécie sobre a biodiversidade, as florestas, os múltiplos biomas, o clima e os oceanos tem se intensificado com a ampliação gradativa dos implementos tecnológicos, quase sempre ligados a interesses de grupos que visam apenas lucrar, sem o mínimo de preocupação com o planeta e a vida.
            Em anos recentes, iniciativas pífias de grandes multinacionais e de governos, baseadas em puro marketing para aplacar o temor das massas, começaram a pregar a diminuição do consumo de água e energia dos cidadãos, mas em nenhum momento falaram da diminuição do crescimento econômico, mesmo utilizando a falácia de um “desenvolvimento sustentável”, continuaram a investir macissamente em uma aceleração do consumo baseada na obsolecência programada dos produtos, criados com a durabilidade programada para serem substituídos incessantemente sem que seja avaliado o alto custo de sua produção para a biosfera terrestre.
            Para a sua produção, os bens de consumo demandam insumos cada vez maiores, quantidades descomunais de água e combustível são necessários, e o seu descarte  é rápido, fruto da crescente "obsolescência programada". Um bom exemplo é a incessante substituição de aparelhos de celular que ainda possuem todas as funções dos anteriores, mas não possuem o mesmo valor de status quo para os seus usuários. O Brasil tem alimentado esse sistema torpe com insumos diversos, bom exemplo são as grandes extenções de terra desmatadas na região do bioma Cerrado - a ponto de pesquisadores considerá-los extinto - para o plantio da cana de açucar visando a produção do biodiesel – um combustível erroneamente considerado ecológico e sustentável.
            A devastação ambiental do bioma Cerrado, na região Centroeste do Brasil, alia o desmatamento de latifúndios inteiros para a produção de cana de açucar visando a usinagem de biodiesel, com a destruição de grandes áreas para a criação de gado - que além de serem um dos maiores causadores do efeito estufa também contaminam manancias de água - assim como as extensas áreas de plantio da soja transgênica sempre aliada a agrotóxicos que destroem toda a fauna e flora local. A experiência de conviver diariamente com o descarte de produtos por razões de obsolescência de qualidade e de desejabilidade, aliada à tristeza de assistir constantemente a devastação do Cerrado, com as plantações de cana, de soja transgênica e as pastagens de gado tomando cada vez mais os espaços ao redor das áreas em que vivo deixa-me assustado com a iminência real de um apocalipse global, uma sexta extinção massiva de espécies, incluindo a nossa. Parece que não é só o nosso rio Tijuco que vai secar de novo.

Edgar Franco é Ciberpajé, artista transmídia, pós-doutor em artes pela UnB, doutor em artes pela USP, mestre em multimeios pela Unicamp e professor do Programa de Doutorado em Arte e Cultura Visual da UFG. Acadêmico da ALAMI, possui obras premiadas nacionalmente nas áreas de arte e tecnologia e histórias em quadrinhos. ciberpaje@gmail.com

/////////////////////////////////////////////// 

Pescaria

Whisner Fraga é escritor. ALAMI

Helena se senta ao meu lado, abriga a pequena mão em minha perna e me pede para segurar o caniço. Entrego a vara a ela, que, depressa, gira o molinete e recolhe a linha.
- Por que você está fazendo isso?
- Senti uma fisgada.
Então Helename pede para lançar novamente o anzol ao lago. Arremesso e devolvo a ela o equipamento. Mal a isca chega ao fundo e a menina traz toda a linha à terra.
- Pai, tá demorando pra pegar um peixe.
- Tem de ter paciência. Tem de deixar o anzol na água. Esperar.
- Por quê?
- Porque leva tempo mesmo. O peixe precisa encontrar a salsicha e depois precisa querer comer.
- Mas, pai, ele não vai sofrer quando for fisgado?
- Vai sim. Um pouco.
- Que dó, né?
- É sim.
O sol está abatido neste início de maio e os peixes foram para as entranhas das águas. Troco a chumbada por uma mais pesada.
Uma fisgada nos cala. Pego a vara e dou um tranco para trás. O bicho se debate na ponta. Solto a linha, deixo que corra.
E ele foge.
Helena me olha, contente, vitoriosa.
Nos ajeitamos no barranco.
- Pai, tá demorando para beliscar.
- Tem de ter paciência. O bom de pescar é o silêncio, é que ficamos pensando.
- Pensando em quê?
- Em tudo.
- Tudo o quê?
- O que quisermos.
- A escola, por exemplo?
- Por exemplo. Em tudo.
- O almoço?
- Também.
- A tarefa que tenho de fazer?
- Isso.
- O peixe que vamos pegar?
- É.
- Mas, pai, tá demorando para beliscar.
  ////////////////////////////////////////////////////////

O Brado retumbante
Martha Marquez de Andrade


Como está representado o nosso símbolo no Brasil de hoje?
O nosso maior orgulho nacional, aquele que representa a nossa nação, está bem representado para a maioria de nós, brasileiros?
Diz nosso Hino da Bandeira: “Salve lindo pendão da esperança, salve símbolo Augusto da paz”, e ainda: “Pavilhão da justiça e do amor”. Analisando sob este prisma, onde está nossa esperança nossa paz, a justiça e o amor?
Conseguiu-se o “penhor de uma igualdade com braço forte?” Onde está a consciência de nação? “Deitada eternamente em berço esplêndido?”
Como estão nossas conquistas hoje?
Onde está o “sonho intenso, o raio vívido de amor e de esperança que a terra desce?” Temos em nosso seio “mais amores?” “Do universo entre as nações, resplandece a do Brasil?”
“Liberdade”!“Abra as asas sobre nós”.
Senhor traga de volta a nossa consciência a fim de reconquistarmos “Nossa Pátria” onde “o lábaro se ostentará novamente estrelado”. Que possamos abrir nossos olhos para enxergar um mundo onde o lema seja o amor e que, nossas mãos, possam hastear nossa bandeira sem “temor servil”. Que ao desejarmos “a paz com fervor”, isto não nos traga dor.
Que possamos ter orgulho de bradar por justiça, de saber amar e, com a alma adorar “a terra onde se nasce”. E vislumbrar à nossa frente, “o Brasil gigante pela própria natureza, belo, impávido colosso”, onde, no “futuro espelha essa grandeza”.
E bradar: “Terra adorada, entre outras mil, és tu, Brasil, ó Pátria amada”.
Com amor febril,
Assinado: “Filhos deste solo”.
Marta Marquez de Andrade é escritora, autora de “Palco de lutas”